O inicio do humanismo em portugal


No inicio do século XIV, começava a nascer o Humanismo, movimento intelectual que reformulou a filosofia, a arte e as ciências. Nas letras, as obras dos italianos Petrarca e Dante Alighieri inspiraram poetas de diversos outros países europeus.

Em parte, a posição servil diante da Igreja foi abandonada, em nome da valorização dos estudos clássicos e do privilégio da razão. O antropocentrismo ("o homem como centro") substituiu o teocentrismo característico da Idade Média. Valorizou-se o homem, com suas potencialidades e seu poder de ditar o próprio destino. A imagem de um Deus cruel foi substituida por um Deus de bondade, cuja grandeza podia ser verificada até nas coisas da natureza, que deveria ser contemplada.

Também a literatura começava a refletir essa nova visão de mundo, abrindo as portas para a revolução do Renascimento.


O HUMANISMO EM PORTUGAL

Portugal do inicio do século XV caracterizou-se pela adoção de novos valores, novos estilos literários e novos ideais. A lingua portuguesa ganhava contornos próprios enriquecida pela aproximação cultural com as tendências clássicas que partiam da Itália para todo o continente europeu.

Cronologicamente, o Humanismo português praticamente coincide com o período das grandes navegações. Compreende-se entre 1434 (quando Fernão Lopes é escolhido para o cargo de cronista-mor do reino e inicia a historiografia portuguesa) e 1527 (quando o poeta luso Sá de Miranda retorna da Itália, trazendo novas tendências estéticas, aprendidas com os autores renascentistas italianos). A Europa da época vivia grandes transformações registradas por certos historiadores chamados humanistas, estudiosos ligados à Igreja e artistas independentes ou protegidos por ricos mercadores. Graças a seus estudos e reflexões, foi possível situar o homem como dono do próprio destino, valorizando os direitos do indivíduo e permitindo o avanço das ciências.

A expansão marítima provocaria uma mudança radical de comportamento do povo luso, pois o contato com novos povos deu ao português um caráter mais prático e menos contemplativo, o que seria muito útil para os avanços ideológicos da época.

A historiografia de Fernão Lopes, a literatura moralista e didática de Avis, a poesia palaciana e o teatro de Gil Vicente compuseram o que seria mais fecundo nesse período cultural português. Embora pertencentes ao período renascentista, esses autores ainda estavam, de certo modo, presos a um tipo de cultura medieval, evidenciada pela interpretação cristã do homem, de forte embasamento tradicionalista, cavaleirescoe proselitista.


A HISTORIOGRAFIA DE FERNÃO LOPES

A historiografia de portuguesa surgiu com os nobliários (ou livros de linhagem), obras que se prestavam simplesmente a traçar a genealogia das familias nobres. O cronista Fernão Lopes mudou esse conceito, produzindo uma historiografia em forma de crônicas internacionamente artísticas, com um espírito literário inconfundível, além de um extraordinário senso de investigação.

Em 1434, Fernão Lopes foi promovido do guarda-mor da Torre do Tombo a cronista-mor, com a função de escrever a história dos antigos reis de Portugal. Ficou conhecido como " o Heródoto português", em referência ao historiador grego. Sua capacidade crítica e a meticulosidade documental deram um valor inestimável a seu trabalho. A Crônica d'el-rei d. João I são obras profundamente comprometidas com a arte e a história.

A POESIA PALACIANA

No reinado de d. Afonso V, eram frequentes, na corte, reuniões em que se valorizavam diversas formas de expressão artística, o que colaborou para enriquecer a vida social do palácio.

Embora chamada poesia palaciana tenha tratado de numerosos temas, seu apogeu esteve voltado para as coisas de amor, com destaque para um sofrimento que a remetia à poesia dos travadores. A temática amorosa, no entanto, ganhou nova abordagem: a súplica pungente da poesia medieval deu lugar a um texto em que a mulher era tratada com mais intimidade, deixando de lado a veneração platônica e a imagem idealizada, próprias dos trovadores.

Obs:

A prudução palaciana foi renida no Cancioneiro geral, publicado por Garcia de Resende em 1516, e coleta mais de mil poemas, 300 autores.

A inovação também repercutiu nos aspectos formais da poesia, por exemplo, quanto ao número de sílabas métricas dos versos. Continuou a ser usada a redondinha, ou seja, o verso de sete sílabas métricas (conhecido como redondilha maior), que dá ao poema um ritmo mais àgil, facilitando a memorização.

A poesia palaciana cultivou diversas formas, das quais as mais comuns eram:
  • a trova, poema com duas ou mais estrofes;
  • o vilancete, poema que incluía um (tema ou assunto com poucos versos) e algumas voltas ou glosas (desenvolvimento do mote);
Posteriormente, esse estilo recebeu o nome de medida velha, já que a ele viria se opor a medida nova, estilo renascentista do século XVI.

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